a meus avós
a Patativa do Assaré
AN 1
Olhos opacos,
fundos – viu
tempos imemoriais.
AN 2
Chapéu num aceno
burra faceira
meu avô se indo.
AN 3
Debaixo da catarata
olho de minha avó
a descompreender o mundo.
AN 4
Alpargatas gastas
muitos chãos
poeira dos anos.
AN 5
Rosário na janela
a torre da matriz
minha avó rezava.
AN 6
Padim Ciço,
novenas, rezas,
ai…ai…juazeiro.
AN 7
Passo ligeiro, sino,
osário na mão e missa,
– Te benze, menino.
AN 8
Ladainha, procissões,
madrugada adentro
– mistérios dolorosos.
AN 9
Anáguas de minha avó,
alvas, presas a cerca
sabão de barra, águas do rio.
AN 10
Garrafadas, raizadas,
Chico da Mata já na burra
– Tome sete dias, de jejum.
AN 11
Tapioca no caco,
cheiro de coco e café de bule,
mãos prendadas, minha avó.
AN 12
Rezas pras almas sofridas
esfaqueadas na encruzilhada
minha avó era piedosa.
Campo Grande-MS, 08.01.08 (11:20 h)
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